terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ah! Eu sou Gaúcho...

Minhas Prendinhas Picurruchas! Vi e Duda...
Uma coisa é certa, nenhum outro povo tem tanto orgulho de suas tradições, de suas raízes como o Rio Grande do Sul...

"(...) Mas não basta pra ser livre, ser forte, aguerrido e bravo.
Povo que não tem virtude, acaba por ser escravo... (...)"


"Esqueçam idealizações imbecis ou fantasias de folcoristas. Tratarei do gaúcho em sua essência, não dos aspectos que podem simplesmente ser adquiridos externamente. Logo, ser gaúcho não é (só) vestir pilchas e dançar chula. O gaúcho é uma figura cultural, um povo, um conglomerado de características surgidas na vida no Pampa, perpassando hábitos e vestimentas e culminando em um tipo, cujas características preenchem o interior de todo gaúcho de verdade.

Um gaúcho legítimo não precisa ser nascido nos pampas argentino, uruguaio ou rio-grandense. Não precisa vestir bombachas, tomar chimarrão nem falar “tchê”. Igualmente, não é apenas engolindo água com erva-mate, dançando vaneira e cumprimentando como gaudério que um maturango vira gaúcho.


Aqui na Alemanha, há um sem-número de alemães, filhos de imigrantes turcos, que todavia agem como se nada tivessem a ver com o país onde nasceram. Não são alemães, mas também não costumam reproduzir as maneiras turcas.


Lendo uma reportagem de uma revista de turismo alemã sobre Argentina e Chile, com várias páginas dedicadas a explicar o “gaucho” argentino, senti a necessidade de escrever este texto. Substituíssemos as palavras espanholas (peón, patrón, gaucho, estancia) por portuguesas, pensaríamos tratar a matéria sobre o Rio Grande do Sul. Os valores que compartilhamos com os paisanos da Pampa castelhana estavam todos lá. A roda de chimarrão, o amor pela liberdade, a devoção ao pago, o destemor, o orgulho, a parceria com o pingo. Tudo.


É então que se percebe que a nossa pátria é o Pampa e não a praia com coqueiros; nossa característica é a bravura e não o jeitinho; nosso valor é a lisura e não a malandragem. Ver caipirinha servida em todos os bares de Berlim não desperta mais sentimento do que ouvir rumba. Já encontrar gente mateando...


O gaúcho autêntico – não importa onde tenha nascido – é um bom anfitrião, que trata seu hóspede com toda regalia; é simples de modos, mas reto de caráter; é humilde em ambições, mas exagerado em ideais e paixões; é um respeitador fiel da hierarquia funcional e o primeiro a proclamar a igualdade, quando todos sentam juntos para matear; é um batalhador, que não desiste nunca; é um rebelde, que nunca aceita ser dominado; é um bravo, que não foge de uma luta por ser difícil.


O gaúcho autêntico é um verdadeiro tradicionalista. Não porque aprende coisas no CTG, mas porque carrega em si esses valores e não vê alternativa possível de vida digna fora deles. Não é possível ser gaúcho só no fim-de-semana. Então, quem quiser falar em preservar a tradição, que comece por aderir completamente aos preceitos aí em cima. Depois, pense em pilcha, danças ou expressões típicas." 


Pires, Felipe Simões, 2006. O que é ser Gaúcho.  Acesso em 20.set.2011. Disponível em: http://www.artigos.com/

sábado, 17 de setembro de 2011

Contos de fadas...

“Os contos de fada são assim:
Uma manhã a gente acorda e diz: era só um conto de fadas...
E a gente sorri de si mesmo.
Mas, no fundo não estamos sorrindo.
Sabemos muito bem que os contos de fada são a única verdade da vida.”
(Saint Exupery in “O Amor do Pequeno Príncipe”)

domingo, 11 de setembro de 2011

Mais um daqueles eufemismos idiotas...



Não conheço algo mais irritante do que dar um tempo, para quem pede e para quem recebe. O casal lembra um amontoado de papéis colados. Papéis presos. Tentar desdobrar uma carta molhada é difícil. Ela rasga nos vincos. Tentar sair de um passado sem arranhar é tão difícil quanto. Vai rasgar de qualquer jeito, porque envolve expectativa e uma boa dose de suspense. Os pratos vão quebrar, haverá choro, dor de cotovelo, ciúme, inveja, ódio. É natural explodir. Não é possível arrumar a gravata ou pintar o rosto quando se briga. Não se fica bonito, o rosto incha com ou sem lágrimas. Dar um tempo é se reprimir, supor que se sai e se entra em uma vida com indiferença, sem levar ou deixar algo. Dar um tempo é uma invenção fácil para não sofrer. Mas dar um tempo faz sofrer pois não se diz a verdade.

Dar um tempo é igual a praguejar "desapareça da minha frente". É despejar, escorraçar, dispensar. Não há delicadeza. Aspira ao cinismo. É um jeito educado de faltar com a educação. Dar um tempo não deveria existir porque não se deu a eternidade antes. Quando se dá um tempo é que não há mais tempo para dar, já se gastou o tempo com a possibilidade de um novo romance. Só se dá o tempo para avisar que o tempo acabou. E amor não é consulta, não é terapia, para se controlar o tempo. Quem conta beijos e olha o relógio insistentemente não estava vivo para dar tempo. Deveria dar distância, tempo não. Tempo se consome, se acaba, não é mercadoria, não é corpo. Tempo se esgota, como um pássaro lambe as asas e bebe o ar que sobrou de seu vôo. Qualquer um odeia eufemismo, compaixão, piedade tola. Odeia ser enganado com sinônimos e atenuantes. Odeia ser abafado, sonegado, traído por um termo. Que seja a mais dura palavra, nunca dar um tempo. Dar um tempo é uma ilusão que não será promovida a esperança. Dar um tempo é tirar o tempo. Dar um tempo é fingido. Melhor a clareza do que os modos. Dar um tempo é covardia, para quem não tem coragem de se despedir. Dar um tempo é um tchau que não teve a convicção de um adeus. Dar um tempo não significa nada e é justamente o nada que dói.

Resumir a relação a um ato mecânico dói. Todos dão um tempo e ninguém pretende ser igual a todos nessa hora. Espera-se algo que escape do lugar-comum. Uma frase honesta, autêntica, sublime, ainda que triste. Não se pode dar um tempo, não existe mais coincidência de tempos entre os dois. Dar um tempo é roubar o tempo que foi. Convencionou-se como forma de sair da relação limpo e de banho lavado, sem sinais de violência. Ora, não há maior violência do que dar o tempo. É mandar matar e acreditar que não se sujou as mãos. É compatível em maldade com "quero continuar sendo teu amigo".

O que se adia não será cumprido depois....

 Dar um tempo - Fabrício Carpinejar